terça-feira, 11 de março de 2008

Sr. Arroz




O Sr. Arroz acordou com vontade de passear.
Escanhoou-se cuidadosamente, passou o after-shave pelo rosto fresco e deu umas palmadinhas para terminar.

Orgulhava-se de escanhoar-se em quatro minutos. Há anos que tinha o mesmo ritual. Misturava o creme de barbear na sua tacinha, mexia o preparado com o velho pincel de barba. Pintava a cara com o pincel, ate ficar uma grossa camada de creme. Passava a lâmina por água fria e tirava todo o creme.
De segunda a sábado, o ritual cumpria-se escrupulosamente. Só descansando ao domingo.
Num Natal, o Sr. Arroz recebeu uma máquina de barbear. Esteve que tempos até ter coragem de mudar o seu ritual. Não conseguia fazer a barba sem o seu creme de barbear. Mas a máquina dispensava o creme...
Passaram-se semanas, meses, outro Natal, até que a Sra. Arroz o confrontou. Ele tinha que experimentar.
O Sr. Arroz passou uma semana inteira a mentalizar-se. A máquina ficou todo esse tempo na casa de banho, como que a ver como era o ritual, feita fantasma a aterrorizar as suas manhãs outrora calmas e sem percalços e novidades.
No dia definido, o Sr. Arroz prepara-se com todo o cuidado para a grande experiência. Tinha lido e relido as instruções, estava preparado. Liga a máquina e dirige-a ao seu rosto. Fica uns segundos naquele impasse. Até que decide.
Satisfeito com a sua decisão, o Sr. Arroz guarda cuidadosamente o seu velho pincel.
Mais tarde, dirige-se à drogaria.
Compra um novo pincel, com cabo de madeira envernizada e pêlo sedoso para a sua pele. O sorriso está estampado no seu rosto.

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