quinta-feira, 3 de abril de 2008

O Exacto Azul



Segurou na agulha e num pedaço de linha azul para coser um botão amarelo ao bolsinho da camisa verde. Toda a camisa era cosida com linha azul. Daquele exacto azul. Para descobrir aquele exacto azul percorreu todas as retrosarias da Rua da Conceição. Todas. Começou numa ponta e acabou na outra. Na outra ponta, justamente naquela última loja. Antes de entrar, faltavam ainda duas ou três lojas para terminar o périplo, estivera prestes a desistir. Sempre a mesma coisa, entrava na loja, cumprimentava as pessoas, tirava a camisa verde do saquinho guardado dentro da mala e perguntava se tinha aquele exacto azul. Não. Não. Não e não, respondiam, invariavelmente, depois de percorrer os mostruários repletos de carrinhos de linha de todas as cores. Todas as cores, menos aquele exacto azul. Até que, enfim desiludida e sem réstia de esperança, entra na loja depois de descansar um pouco, encostada a uma parede que apanhava sol. Fechou os olhos e deixou o sol aquecer o seu rosto já sem esperança de encontrar o exacto azul.
E no fundo de uma gaveta esquecida a senhora da loja finalmente encontra os dois últimos carrinhos de linhas do exacto azul.
Vai para casa, com a camisa verde dentro do saquinho guardado na mala e o carrinho de linha do exacto azul e prepara tudo, como se fosse um ritual a cumprir. A agulha com a linha, o silêncio na casa, para que pudesse estar concentrada, e a tarefa finalmente tem início.
Não era uma grande especialista a coser botões. Picou-se duas vezes e fez um pequeno nó que teve de ser aldrabado.
Mas, no final, nem se notava que tinha sido ela a coser o botão. A camisa verde com botões amarelos e linha azul daquele exacto azul estava como nova.

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