Às vezes há tempos tramados. Tempos de alguma inconsciência – como aquela rapariga que achou que poderia aceitar qualquer coisa para continuar a pagar a renda de casa. Tempos em que não sabia que não se procurava emprego no jornal diário mais vendido. Mas procurou. O anúncio parecia fácil: Ganhe uma pipa por mês. Ligou e disseram-lhe para ir lá na segunda-feira seguinte.
Foi. Era para vender enciclopédias, num regime estranho que nem ela percebeu bem o que era.
Ela achava que não havia problema e não tinha vergonha.
Quem dava o curso era um vendedor de enciclopédias, daqueles que convencia qualquer um a vender a mãe. Tudo parecia fácil.
E foi quando ela decidiu tentar a sua primeira venda. Mas afinal gozaram.
E ela ganhou vergonha na cara, desistiu e quis esquecer aquela semana e aquelas pessoas. Aquele ridículo todo.
Um ano depois o homem que dava o curso encontrou-a no cinema e foi cumprimentá-la, feliz até, por vê-la! A rapariga virou a cara e fingiu não se aperceber de nada.
Ela respondeu, secamente: “Deve estar a confundir-me com alguém. Eu não o conheço”.
No dia seguinte ela percebeu que estava a crescer. A vida deixava de ter a aparência dos dezoito anos. As ilusões desvaneciam-se.
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