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Eu não sou eu nem sou o outro,
Sou qualquer coisa de intermédio:
Pilar da ponte de tédio
Que vai de mim para o Outro.
Mário de Sá Carneiro
Histórias, pensamentos e apontamentos para contar, partilhar e recontar. Episódios que aconteceram (ou talvez não), foram inventados, têm piada ou puxam à lágrima ou, simplesmente, apetece contar.
sexta-feira, 20 de junho de 2008
Semana em stress
Cansa-me a intolerância e a prepotência de almas infelizes e insatisfeitas com a sua vida e que, por isso, procuram também massacrar a minha. Ou, como diz Álvaro de Campos...
O que há em mim é sobretudo cansaço
O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos
O que há em mim é sobretudo cansaço
O que há em mim é sobretudo cansaço
Não disto nem daquilo,
Nem sequer de tudo ou de nada:
Cansaço assim mesmo, ele mesmo,
Cansaço.
A subtileza das sensações inúteis,
As paixões violentas por coisa nenhuma,
Os amores intensos por o suposto alguém.
Essas coisas todas -
Essas e o que faz falta nelas eternamente -;
Tudo isso faz um cansaço,
Este cansaço,
Cansaço.
Há sem dúvida quem ame o infinito,
Há sem dúvida quem deseje o impossível,
Há sem dúvida quem não queira nada -
Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles:
Porque eu amo infinitamente o finito,
Porque eu desejo impossivelmente o possível,
Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser,
Ou até se não puder ser...
E o resultado?
Para eles a vida vivida ou sonhada,
Para eles o sonho sonhado ou vivido,
Para eles a média entre tudo e nada, isto é, isto...
Para mim só um grande, um profundo,
E, ah com que felicidade infecundo, cansaço,
Um supremíssimo cansaço.
Íssimo, íssimo. íssimo,
Cansaço...
Álvaro de Campos
terça-feira, 3 de junho de 2008
Surdez
A rua estava cheia de gente, era noite de Santo António.
As luzes da cidade faziam ricochete nos edifícios e na lua cheia.
Os martelos batiam na cabeça dos transeuntes.
As luzes brilhavam nos vidros dos carros que passavam.
Pessoas gesticulavam furiosas, talvez pelo impedimento de passar na Avenida.
As luzes das casas denunciavam os mais resistentes às festas.
Namorados passavam e entreolhavam-se em tons de enamoramento.
As luzes falam-nos palavras que não podem ser ouvidas.
Dominó
Olhaste para mim enquanto te afastavas. Sorriste e tropeçaste no carteiro, distraído na entrega do correio. Levava cartas e encomendas que levam mais sorrisos aos destinatários. Tocou à campainha e uma velhota abriu a porta, sorridente e ansiosa pelo correio, mas só recebeu a conta da luz e, revoltada, decidiu ir à pastelaria afogar as mágoas num pastel de nata, apesar das insistentes advertências a respeito dos diabetes da médica de família, que aliás mantinha o problema da surdez. As consultas eram uma gritaria, porque raramente percebia à primeira as queixas dos pacientes, que decidiram juntar-se e fazer queixa contra a médica surda, que acabou por ser reformada à força e foi substituída no centro de saúde por uma jovem médica que tropeçou no carteiro na primeira vez que se apresentou ao serviço.
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